Kátia Dantas - Cenógrafa e Figurinista







Kátia Maria Dantas de Queiroz, nascida no dia 9 de Fevereiro de 1962, no bairro das Quintas – Natal/ RN, residente no mesmo lugar até os dias atuais. Seu ateliê localiza-se no bairro do Alecrim.



Entrevista com a cenógrafa KÁTIA DANTAS
(7 DE JUNHO DE 2018)
  •  Kátia, conte-nos como foi que você se descobriu na arte:
- Na fase de término do 2º Grau, ficou a tal dúvida... o que fazer?! Eram
duas opções de curso e a minha vontade era de fazer engenharia civil.
Quando foi se aproximando a data de fazer o vestibular, fiquei muito
indecisa: se fazia engenharia civil ou educação artística. Naquela época
ainda era educação artística. No final eu decidi colocar como 1º opção
educação artística e como 2º engenharia civil. Quando eu fui saber do
resultado fiquei muito chateada, porque a média dava pra ter passado
em engenharia. Quando eu cheguei na universidade, pra ser bem franca,
eu não gostei do curso. Era muito precário, nós saíamos de lá pra sala de
aula, não tínhamos preparação nenhuma. Eu até tentei e fiz, um
reingresso em outra área. E consegui. Eu já estava tão decepcionada, pois o curso não me satisfazia... foi aí onde eu conheci João. Mas passei a ter mais contato com ele no período do grupo Alegria, Alegria.
  • Então o seu 1º contato com a arte foi com o grupo Alegria, Alegria?
- Sim. Na universidade, tínhamos umas aulas de
manuseio de barro, e desenho, escultura. Mas era uma coisa muito fraca, muito
pequena. Só pinceladas. Nessa época o grupo estava no auge, e por eu estar
muito envolvida no grupo, eu me envolvi. Eu digo que eu fui chegando sem ser
convidada. Por vezes o pessoal tinha dificuldade com as roupas quando rasgava
algo, e era eu que concertava algo. E eu nem tinha muita intimidade com a
máquina de costura.
  • Kátia, o grupo trabalhava com teatro de rua. E no cenário, não tem uma coisa que podemos chamar de um “pano de fundo”. Como você pensavaesse cenário para o teatro de rua?
- Quando eu entrei, o que estava no auge era “as aventuras de Pedro
Malasartes", que foi um espetáculo que teve quase 2 mil apresentações até
onde eu registrei. Nós acabávamos usando os próprios instrumentos e adereços para demarcar o nosso espaço de trabalho ou fachadas de casarões e igrejas. Mas outras coisas aconteceram e o espetáculo veio a acabar.
Daí começou a aparecer outros espetáculos, pequenas esquetes, coisas da secretaria de saúde, com os sindicatos. E começamos a fazer os trabalhos. Para mim o maior desafio foi quando Grimário resolveu montar um espetáculo
grande que foi o inspetor, porém eles já haviam contratado alguém pra fazer a
proposta. E no final fui eu que fiz todo o trabalho, lógico que com a aceitação
do grupo. Dessa fui eu, pois a pessoa contratada à fazer o trabalho não soube
corresponder as expectativas do diretor. Como eu já vivia muito por lá, sabia
como fazer da forma que foi pensada.
  •  Qual o trabalho que você considera o mais importante da sua carreira?
- O "Era uma vez um rei" em 1994. Nós usávamos um cenário muito
elaborado. Nós usávamos tecidos, poucos tecidos, vários tipos de tecido
dependendo do espaço. Esse era o cenário. Houve outro grande desfio em
1987. Quando João Marcelino tinha feito o “Era uma vez um Rei” para o grupo
Alegria, Alegria. Essa peça foi muito premiada, e dez anos depois remontamos a
peça. E Grimário me encarregou a fazer esse trabalho.
  •  Quantos anos de carreira você têm?
- Eu tenho 32 anos de carreira. Porque antes disso tudo eu já fazia trabalhos
menores no grupo que não tinha muita visibilidade. Os espetáculos grandes que
me lançaram.
 
  • Quais os espetáculos que você considera os melhores e maiores
trabalhos que você já fez?

- Tem vários, mas tem aqueles que marcaram. Que foram estes: O
inspetor, o Era uma vez um rei e a companhia Burlesca.

  •  Com relação a autos, quais os autos que você se lembra?
- Eu comecei a fazer os primeiros autos nos anos 1997 a 2000, o auto de Natal.
E eram umas coisas bem loucas, uma falta de grana, e traziam roupas de casa e
acontecia. Eu cheguei a fazer 10 à 12 autos aqui em Natal, em Assú, Santa Cruz,
Alto Rodrigues.

  • E hoje, o que você anda fazendo? Pois nós artistas sabemos o que vem
acontecendo nos últimos 5 anos no meio da arte. Falta de público, falta
de apoio, grana.

- Acho que essa crise já é de muito tempo, porém vem se agravando cada vez
mais. Eu ando fazendo meus trabalhos. Eu fiz 3 trabalhos pra Casa da Ribeira,
para os Arquétipos da UFRN. Eu adoro trabalhar com trabalho reciclável, adoro um lixo. Fiz um trabalho do pessoal da Universidade com coisa recicláveis, fiz o trabalho de Alto Rodrigues com coisas do lixo. Saímos catando no meio da rua.
  • Você vive até hoje da sua arte? Como foram esses 32 anos vivendo da sua arte?
- Olhe, quando eu terminei a universidade, eu tentei fazer um concurso para o
banco do Brasil. Mas eu fiquei no comércio mesmo 15 anos. Trabalhei como
vendedora de loja. Vendia em uma das lojas do meu tio. E vendia muito.
Quando eu estava saindo do comercio, eu comecei a me envolver com o teatro.
Teve momentos de auge no teatro. Era um trabalho após o outro. Mas também
houve os momentos baixos.
  •  Por você ser a única mulher cenógrafa com um nome de peso no estado, você chegou a sofrer algum preconceito?
- Não. Eu não sofri isso não. Mas eu também não sou a única. Existiu a Lourdes
Albuquerque, mas ela deixou. Mas eu não cheguei a sofrer esse tipo de
preconceito, pelo menos não com os artistas da minha classe.

  • Sobre o atual cenário da arte no Brasil, você consegue ver uma mudança para melhor?
-É um sonho, mas não é possível. Nós temos que lutar. Se temos um sonho
devemos agarrar ele e ir, mergulhar de cabeça. Obstáculos, isso haverá em
todos os espaços que você for, em todas as profissões. E eu acho que entre
vocês, os artistas mesmo, dizem que vão assistir um trabalho, e não vai. Ao
invés de ir ver a obra, o trabalho, o esforço do pessoal, para curtir o
espetáculo... você vai pra fazer a crítica. Vai logo com o olhar de achar um
defeito. Só sabe quem esta dentro, existem varias ideias e de repente vão
cortando tudo. Corta ideias, corta grana, corta tudo... Quanto ao governo, eles
acham que a gente vem brincar, acham que isso é apenas mais um hobby. E
não é, tem pessoas que vivem disso. E você acaba ficando sem saber o que
fazer.
  • Você acha mais viável o artista ir buscar oportunidades lá fora, seja do estado ou país, ou tem que surgir uma geração que levante a arte nacional mais uma vez?
- Olha, quando é um sonho você tem que lutar. E pra poder levantar a arte
nesse país, você tem que ter muita garra e força.

ESTA É UM POUCO DA HISTÓRIA E DOS TRABALHOS DE KÁTIA DANTAS ...

A Estrada ou O Milagre da Fé - De Clotilde Tavares – Edital Natal em Cena – 
2013 






Dona Fauna da Silva Flora –Grupo de Teatro Artes e Traquinagens - IDEMA - 2006



 
 
 Momento da entrevista com Kátia Dantas

Comentários